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Mulheres Negras no Rock: Parte 5 – Grace Jones e as cantoras dos anos 80

Mulheres Negras no Rock: Parte 5 – Grace Jones e as cantoras dos anos 80

Mulheres Negras no Rock

Neste post falaremos sobre Grace Jones, diva da cultura pop que até hoje serve de base e influência para artistas de diversos gêneros. Também temos a carreira solo de Nona Hendryx e a inesquecível Tracy Chapman.

Até agora, contamos as origens do gênero com Sister Rosetta Tharpe, Laverne Baker e Big Mama Thornton, as três foram apagadas da história e tiveram os seus sucessos “embranquecidos” em prol de uma audiência branca. Na segunda parte vimos como nos anos 1960 Tina Turner deixou a sua marca e conhecemos Odetta “A Rainha do Folk”, além do girl group Martha and The Vandellas, ambas figuras importantes nos movimentos por direitos civis e para a música, além de Etta James e a sua voz marcante. Já na década de 1970 conhecemos Betty Davis, Joyce Kennedy do Mother’s Finest e o trio Labelle. No final dessa mesma década ainda destacamos as minas do punk e do ska Poly Styrene e Pauline Black, além de conhecermos o único single de Fancy Rosy.

Com algumas exceções, a maioria dos nomes citados acima permaneceram desconhecidos do grande público, mesmo tendo sido fundamentais para o tal do Rock and Roll e seus derivados, no entanto esse não foi o caso de Grace Jones que quebrou barreiras, não só na música, com o seu visual e atitude.

Ladies and gentlemen: miss Grace Jones

Grace Jones
Grace Jones

Grace Jones sozinha já daria um especial de vinte postagens, mas vamos tentar resumir a carreira desse verdadeiro ícone.

Nascida na Jamaica em 19 de maio de 1948, Grace teve uma criação muito religiosa pelos seus avós e aos treze anos se mudou para a casa dos pais em Siracusa, no estado de Nova Iorque nos EUA, onde estudou espanhol e Artes Dramáticas na universidade.

A sua rebeldia crescente a levou a sair de casa cedo e ir morar na Filadélfia, onde depois migrou para a cidade de Nova Iorque. Lá ela assinou contrato com uma agência de modelos, mas como a sua carreira não estava dando frutos nos EUA ela então se mudou para Paris em 1970.

Na Europa o seu visual andrógino e diferente a destacou e ela se firmou como uma modelo bem sucedida, desfilando para grandes nomes do ramo como Yves Saint Laurent, Giorgio Armani e Karl Lagerfeld.

O sucesso nas passarelas possibilitou outras oportunidades como atriz e cantora, na década de 1970 ela fez pequenas participações em filmes e gravou três álbuns de disco music: Portfolio (1977), Fame (1978) e Muse (1979), porém os álbuns não fizeram sucesso comercial.

Ela também se tornou queridinha de Andy Warhol e era presença constante em seus trabalhos fotográficos, além de ficar famosa pelas apresentações que fazia nos clubes noturnos voltados para o público gay em Nova Iorque e no Studio 54.

Na década seguinte Grace Jones se reinventou e mergulhou nas influências do rock, funk, new wave e reggae, além de sexualizar ao extremo em suas performances e letras.

Ela também abusou do seu visual andrógino e da sua autenticidade que a transformaram em um ícone fashion e pop, o seu corte de cabelo quadrado se tornou uma marca registrada, até hoje Jones afirma ser copiada por cantoras pop como Lady Gaga entre outras.

Os anos 1980 foram a década de Grace Jones, ao todo foram seis álbuns lançados nesse período Warm Leatherette (1980), Nightclubbing (1981), Living My Life (1982), Slave to the Rhythm (1985), Inside Story (1986) e Bulletproof Heart (1989). Além de atuações marcantes nos filmes Conan (1982), com Arnold Schwarzenegger, e James Bond – Na Mira Dos Assassinos (1985), com Roger Moore.

Em seu álbum Warm Leatherette de 1980, ela regravou músicas como “Love is A Drug” do Roxy Music e “Private Life” do The Pretenders, além de uma rara versão em reggae de “She’s Lost Control” do Joy Division, lançada como single. Também podemos destacar o álbum Nightclubbing de 1981, que trouxe regravações de músicas de Sting, Iggy Pop e David Bowie e também trouxe o hit “Pull up to the Bumper”, em que ela causa cantando sobre sexo anal.

Em Slave to the Rhythm de 1985 Grace Jones fez história e alcançou o sucesso definitivo com o hit homônimo que fala da escravidão de uma maneira que só Miss Jones conseguiria falar, esse foi o seu álbum mais vendido e a estabeleceu como ícone pop.

Falar de Grace Jones é tentar explicar alguém multifacetado que atuou em várias frentes como moda, cinema, música e artes visuais, tudo em favor da arte e da experimentação. Ela foi pioneira em vários sentidos, é um ícone LGBTQ+, ela já desafiava os papéis de gênero e sexualidade na cultura pop há quase quarenta anos.

Ela está até hoje na ativa e ao longo de mais de quarenta anos de carreira nunca parou de trabalhar e de ser uma diva de talento inegável.

Grace Jones – She’s Lost Control:

https://youtu.be/I0U9ApTT094

Grace Jones – Pull Up To The Bumper:

Grace Jones – I’m Not Perfect But I’m Perfect For You:

A carreira solo de Nona Hendryx

Nona Hendryx
Nona Hendryx

Na terceira parte do especial falamos do trio de glam rock Labelle, que era formado por Patti Labelle, Cindy Birdsong e Nona Hendryx, após o término do grupo as três integrantes apostaram em carreiras solo, Patti Labelle se estabeleceu no R&B enquanto Nona Hendryx migrou para o hard rock e new wave nos anos 1980.

No final da década de 70 Nona Hendryx lançou o seu primeiro álbum solo Nona Hendryx (1977), um trabalho notável que misturava soul e hard rock, mas que não fez nenhum sucesso. Como estava perdendo espaço, ela então começou a trabalhar ajudando nos vocais de estúdio para outros músicos e foi assim que ela conheceu nomes como Yoko Ono, David Johansen do New York Dolls, Prince, Afrika Bambaataa, Peter Gabriel entre outros, ela também ajudou nos vocais do Talking Heads e até saiu em turnê com eles. No começo dos anos 1980 ela se tornou vocalista de uma banda de art rock chamada Zero Cool, ao mesmo tempo em que começava a obter sucesso cantando em outros grupos e em 1982 ela lançou mais um álbum intitulado Nona que trazia o hit “Transformation”.

Em 1984 ela lançou mais um álbum chamado The Art of Defense, mas foram os seus álbuns seguintes The Heat de 1985 e Female Trouble de 1987 que alavancaram a carreira de Nona. No álbum The Heat ela compôs e gravou “Rock This House” com a participação de Keith Richards e recebeu uma indicação ao Grammy por essa canção. Hendryx também ingressou junto com outros artistas como Bono Vox, Bruce Springsteen e Lou Reed no Artists United Against Apartheid, um grupo de artistas que se uniu para protestar contra o Apartheid na África do Sul.

Em Female Trouble ela alcançou o sucesso comercial com o hit “Why Should I Cry?”, que entrou no Top 100 da Billboard. O álbum tinha o som característico dos anos 1980, com uma mistura de rock e pop e ainda contava com a participação de Prince, que escreveu a faixa “Baby Go-Go”. No final daquela década Nona Hendryx lançou mais um álbum, Skin Diver (1989), que não repetiu o sucesso dos álbuns anteriores. Nas décadas seguintes ela lançou mais alguns trabalhos e deu continuidade a sua carreira fazendo algumas colaborações com outros músicos e se reunindo com o Labelle eventualmente.

Apesar de ter produzido cinco trabalhos solo nos anos 1970/1980 que podem ser considerados bons e ter talento de sobra, Nona Hendryx não alcançou muito sucesso comercial e é quase desconhecida fora dos EUA. Seus álbuns ficaram esgotados por décadas sem que as gravadoras se interessassem em relançá-los, somente no final dos anos 2000 os seus discos começaram a ser remasterizados e lançados em CD.

Uma curiosidade sobre Nona Hendryx é que a grafia original do seu nome é com a letra “i” no lugar do “y” e ela é prima de ninguém menos que Jimi Hendrix.

Nona Hendryx – Why Should I Cry?:

Tracy Chapman e o seu sucesso meteórico

Tracy Chapman
Tracy Chapman

Você pode até dizer que não sabe quem é Tracy Chapman, mas eu tenho certeza que em algum momento de sua vida (provavelmente de tristeza) você já ouviu alguma de suas músicas, já que ela é presença garantida em programas de rádios como Alfa FM e Antena 1, mas ela é muito mais do que isso.

No final da década de 1980 a cantora e compositora estourou com o seu primeiro álbum auto intitulado Tracy Chapman (1988), que vendeu milhares de cópias e foi sucesso imediato, Chapman também se destacou como uma nova voz que remetia ao folk, blues e soul de décadas anteriores, ao mesmo tempo em que conseguia mesclar o pop rock em canções de acompanhamentos simples que falavam de sentimentos e experiências pessoais, o seu estilo mais leve e casual representou uma novidade naquela década carregada de exageros. Suas músicas “Fast Car”e “Baby Can I Hold You” foram os maiores sucessos de seu álbum de estreia.

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Tracy Chapman nasceu em 30 de março de 1964, quando criança ela entrou em programa que ajudava crianças negras talentosas com os estudos, ela tocava guitarra e escrevia desde pequena, assim foi possível que Chapman terminasse os estudos e entrasse em uma universidade. Enquanto completava o curso na universidade, ela se apresentava nas ruas e em cafés e foi nessa época que a cantora conseguiu assinar contrato com uma gravadora.

Depois de lançar o seu primeiro álbum em 1988 e alcançar o sucesso imediato, no ano seguinte ela recebeu quatro indicações ao prêmio Grammy, vencendo em três, incluindo Artista Revelação, Melhor Gravação de Folk Contemporâneo e Melhor Performance Vocal Pop Feminina. Nesse mesmo ano ela lançou um segundo álbum que não fez o mesmo sucesso comercial, mas mesmo assim recebeu mais uma indicação ao Grammy.

Na década seguinte ela lançou mais dois trabalhos em Matters of the Heart (1992) ela continuou restrita a um nicho de fãs fiéis, sem fazer o mesmo sucesso do primeiro trabalho, mas com New Beginning (1995) ela voltou às paradas de sucesso e foi premiada novamente no Grammy com a música “Give Me One Reason” que recebeu quatro indicações e venceu na categoria Melhor Canção de Rock.

As canções de Chapman também falam de ativismo social, a cantora tem uma forte participação em ações sociais, o que a transformou em uma das cantoras mais relevantes no ativismo das últimas décadas. Chapman também se estabeleceu como uma referência, na época, para cantores que surgiram nos anos 1990 e faziam um som com melodias simples e letras confessionais, como o R.E.M. de Michael Stipe, além de ser forte influência para o movimento de cantoras e compositoras que surgiu nos 1990.

Tracy Chapman vendeu milhões de discos, recebeu vários prêmios e abriu espaço para um gênero de pop rock mais intimista. O seu disco de estreia figura na lista dos 100 melhores álbuns dos anos 1980 da revista Rolling Stone.

Tracy Chapman – Fast Car:

Tracy Chapman – Baby Can I Hold You:

Ouça a playlist especial Mulheres Negras no Rock:

Leia os outros posts do especial:
Mulheres Negras no Rock: Parte 1 – De Sister Rosetta Tharpe ao esquecimento
Mulheres Negras no Rock: Parte 2 – Tina Turner, Odetta e os anos 1960
Mulheres Negras no Rock: Parte 3 – Betty Davis e os anos 70

Mulheres Negras no Rock: Parte 4 – Poly Styrene e o punk rock
Mulheres Negras no Rock: Parte 6 – De Lisa Fischer ao rock alternativo dos anos 90
Mulheres Negras no Rock: Parte 7 – Tamar-kali e a renovação nos anos 2000
Mulheres Negras no Rock: Parte 8 – Brittany Howard e os novos nomes
Mulheres Negras no Rock: Parte 9 – Lady Bo e as guitarristas
Mulheres Negras no Rock: Parte 10 – Mahmundi e as brasileiras

Fotos de Grace Jones, Nona Hendryx e Tracy Chapman:

Fontes:

Grace Jones: a diva máxima da música pop toca no Brasil em novembro, entenda por que ela é mais poderosa que a Madonna

https://shadowandact.com/cannes-grace-jones-thrill-ride-of-verite-cinema-to-launch-shes-in-talks-to-adapt-autobiography
http://www.allmusic.com/artist/nona-hendryx-mn0000454068/biography
http://soultrain.com/2015/09/17/the-80s-nona-hendryxs-female-trouble/
https://genius.com/artists/Tracy-chapman
https://www.last.fm/music/Tracy+Chapman/+wiki
http://rollingout.com/2015/06/12/tina-turner-grace-jones-black-women-rock/

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