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Diastrofismo Humano: a saga feminina que todo mundo deveria ler

Diastrofismo Humano: a saga feminina que todo mundo deveria ler

Diastrofismo Humano

No segundo volume da série de Sopa de Lágrimas, chamado Diastrofismo Humano, publicado pela editora Veneta, os habitantes de Palomar têm que lidar com duas ameaças: a presença de um serial killer que aterroriza os moradores e a iminente vinda do progresso e invasão de estrangeiros que pode mudar a vida da pacata cidade latina.

Diastrofismo Humano foi lançado em 2017 aqui no Brasil, mas a série já tem mais de vinte anos e faz parte da revista Love & Rockets, dos irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, acompanhando o desenvolvimento dos personagens desde a década de 1980 até a metade dos anos 1990. A revista Love & Rockets é publicada até hoje, sendo reconhecida como uma das melhores HQs de todos os tempos, com fãs como Neil Gaiman e Alan Moore.

diastrofismo humano

Diferente do primeiro volume, que nos apresenta os personagens e suas características, mas sem se aprofundar muito nas histórias de fundo de cada um, em Diastrofismo Humano Gilbert Hernandez consegue criar uma verdadeira saga com uma trama que envolve, uma narrativa cheia de reviravoltas e detalhes que são importantes no futuro. Se assemelhando muito ao romance “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Márquez.

A personagem Luba acaba assumindo a sua importância na trama, mas as suas filhas, agora crescidas, também são outro fator de destaque nessa HQ, que consegue desenvolver os personagens por caminhos totalmente inesperados.

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Além da presença do serial killer, que move a primeira parte da trama, também é mostrada a evolução da relação de Luba com as suas filhas, que crescem rápido demais a cada virada de página e quando menos esperamos elas já têm seus próprios filhos e problemas para enfrentar.

A sexualidade da filha mais velha da personagem, Maricela, também se torna um elemento de conflito na trama. As relações entre mãe e filha começam a se rachar e é interessante notar como Luba é vista como uma mãe ausente e egoísta por se colocar em primeiro lugar na sua vida. Saindo para se divertir com o namorado ou correndo atrás de outras coisas enquanto a sua prima Ofelia é o exemplo de maternidade que as suas filhas buscam. Também ficamos sabendo que Luba nunca quis ter filhos, mas acabou se tornando mãe mesmo assim.

Também vemos a evolução de outras personagens, como Pipo e Tonantzin. No primeiro volume acompanhamos alguns eventos que levam Tonantzin a se tornar uma ativista política em vez de querer ser estrela de Hollywood e nessa continuação observamos as consequências que isso traz. Já Pipo passa de objeto de desejo dos homens a empreendedora de sucesso nos Estados Unidos e se livra de um relacionamento abusivo.

Se em Sopa de Lágrimas fomos apresentadas ao vilarejo de Palomar e seus habitantes, em Diastrofismo Humano vamos além da cidade, conhecendo a vida de imigrante dos personagens nos EUA e também vemos os efeitos da modernidade tardia que atinge os moradores da cidade, passando a ter mais contato com mundo exterior. Palomar não é mais a cidade perdida em algum lugar da América Latina, agora ela atrai turistas e interessados na cultura do local. O que gera o medo de que o lugar perca as características  e se torne influenciado pela cultura americana. Até a possibilidade de se instalar uma linha de telefone no local é tido como algo perigoso.

A invasão americana ante a cultura latina é algo que o autor também pontua na HQ. No primeiro volume o fotógrafo americano que registra a cidade e seus moradores é premiado internacionalmente pelo seu trabalho, mas ele é visto como um aproveitador, com um olhar de colonizador para as pessoas do local. É uma alfinetada nos estrangeiros que procuram esse tipo de local para se apresentarem como white saviors da população querendo expor as mazelas dos pobres locais. Um tipo de indivíduo muito comum também em países africanos.

Luba
Luba

Em meio a todo esse desenvolvimento das personagens, assassinos e gringos sem noção, parte do passado de Luba é revelado e é aí que a saga começa. Conhecemos a mãe da índia Luba e os motivos que a levaram a abandonar sua filha em uma construção narrativa quase cinematográfica. Flashes do passado e do presente se mesclam a cada capítulo e novos personagens são inseridos na trama de forma tão natural que quando percebemos eles já estão ali há tempos, ao mesmo tempo em que vamos desvendando os mistérios que existem em torno de Luba e sua família.

Não vamos falar muito aqui para não perder a graça da surpresa na leitura, mas também rola um enredo digno de novela mexicana quando uma das filhas de Luba engravida e não conta para ninguém quem é o pai da criança. Esse também é um dos méritos de Gilbert Hernandez, além da construção de personagens femininas complexas e densas, ele também consegue criar uma história que te deixa envolvida do começo ao fim em situações que podem ser banais ou ligadas a grandes eventos.

Diastrofismo Humano consegue ser ainda mais espetacular e denso que o seu antecessor Sopa de Lágrimas, preparando o terreno para o terceiro título da saga de Luba, suas filhas e dos habitantes de Palomar.

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Capa Diastrofismo HumanoDiastrofismo humano

Editora: Veneta
256 páginas

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