Entrevista: Madame So fala sobre a cena underground de Londres

Madame So

Madame So é o codinome de Solange Moffi, a cantora, compositora e guitarrista nascida em Paris e radicada em Londres faz um pop rock cheio de personalidade e atitude.

Antes de investir na carreira musical ela trabalhou como jornalista e compositora. Em 2011 começou a se apresentar como cantora e seguiu tocando em cidades como Paris, Londres e Amsterdã.

Em 2019 ela foi eleita pela She Shreds Magazine uma das “10 artistas que dominaram a Cena Underground de Londres”. Madame So já teve o seu trabalho comparado à cantoras como Courtney Love do Hole, PJ Harvey e Patti Smith.

Madame So
Madame So – Foto: Lore Sabau

Suas composições versam sobre a sua geração, além da visão da cantora sobre relacionamentos. Em 2020 Madame So lançou três singles bem sucedidos: Generation YYou Say Who Are We to Judge?. A cantora faz parte da crescente cena atual alternativa de artistas negros como Big Joanie, Nova Twins e Arlo Parks. E o seu hit Black is Beautiful figura em diversas playlists do Movimento Black Lives Matter (Vidas Negras importam).

As influências de Madame So passam por Nina SimoneBob Dylan e Liz Phair, e apesar de ser comparada com a sonoridade dos anos 90, a cantora rejeita rótulos quando se trata do seu trabalho musical.

Conversamos com Madame So sobre as suas influências, a cena underground de Londres e os seus planos para o futuro.

SA – Quais são suas principais referências musicais atualmente?

MS – Elas variam constantemente. Mas alguns artistas que gosto particularmente são Sudan Archives, Yves Tumor, Marieme and LA Salami.

SA- A sua música carrega um pouco da nostalgia dos anos 90. Qual a importância que essa e outras décadas da música tiveram pra você?

MS – Sempre fico maravilhada com esse rótulo. O que é a nostalgia dos anos 90? O fato de que as pessoas realmente tocaram instrumentos orgânicos e escreveram letras totalmente sensatas, poéticas e relacionáveis? Claro que a música dos anos 90 era e ainda é ótima. Só não tenho certeza do porque a música que faço estar sendo rotulada como – Acho que isso está exigindo um pouco de imaginação por parte do ouvinte. Acredito que minha música seja muito contemporânea e relevante, embora eu desconsidere totalmente as tendências… Além disso, gosto de música de todas as épocas e décadas. Por exemplo, atualmente estou imersa em Lucille Bogan, também conhecida como Bessie Jackson (fale sobre uma pioneira independente!), Bem como em Ava Cherry e The Astronettes.

SA – Em Generation Y você canta sobre diferentes gerações. O que você acha da atual geração de mulheres negras fazendo rock?

É ótimo ver mais de nós escolhendo guitarras e fazendo as nossas coisas. A questão é, como sempre foi, que uma vez que o mainstream pega um ou dois atos que pode ser facilmente rotulados, ele o torna uma tendência genérica. Eu quero ver mais mulheres se orgulhando de serem garotas do rock e fazendo isso do seu jeito individual, o que não precisa ser necessariamente gritando e “agindo como punk”.

SA – Você lançou um cover de “Let’s Dance” do David Bowie. Qual foi a importância dele na sua carreira?

MS – Eu lancei essa faixa em 2016, o ano da morte dele e logo após a morte da minha mãe. Sua música é definitivamente uma influência em muitos músicos atuais, incluindo eu, mas eu não iria mais longe e diria que isso foi decisivo em minha carreira. Eu amo a música de Bowie e o fato de que ele foi um pioneiro em muitos aspectos, atuando da maneira que era no final dos anos 1960 e sempre se desafiando artística e esteticamente pelas cinco décadas seguintes, antes de sua hora chegar. Com esse cover eu queria ir no caminho oposto ao original musicalmente e alinhar os arranjos com o incrível conteúdo lírico dessa música melancólica.

SA – Você foi eleita uma das 10 artistas que dominam a cena underground de Londres. Como você vê a cena underground na Europa?

Acho que está prosperando e isso é ótimo. A música e a arte que vem do underground, com orçamentos e recursos minúsculos, são simplesmente inacreditáveis ​​e impressionantes, deixando muitas ações “contratadas” e superpromovidas envergonhadas, realmente. Deus abençoe o underground por sua criatividade e diversidade, se você for mais a fundo!

SA – No ano passado você lançou três singles bem sucedidos e esse ano está lançando o single “Real Friends”. Podemos esperar um álbum seu em breve?

MS – Essas faixas foram originalmente destinadas a fazer parte de um álbum, mas então aquela besta chamada COVID-19 mudou tudo, então estou lançando singles por enquanto, até estar pronta para gravar outro álbum… Dito isso, lançar álbuns é muito anos 90, e não queremos isso, lembra ?! 😉

SA – Você tem algum artista brasileiro que você admira?

MS – Acho que o Seu Jorge é alguém com quem particularmente me identifico. Dito isso, não estou muito ciente da cena brasileira atual, então sinta-se à vontade para me dar recomendações.

SA – Qual é a mensagem que você deixa para os seus fãs no Brasil?

MS – Se cuidem, fiquem seguros e sejam pacientes até que o mundo volte ao normal e espero vê-los ao vivo em sua terra natal em um futuro não muito distante.

English:

1-      What are your main musical references today? They vary constantly. But some artists I am particularly fond of are Sudan Archives, Yves Tumor, Marieme and LA Salami.

2-      Your music carries a bit of nostalgia from the 90s. How important has this and other decades of music been to you? I am always amazed with this label. What is 90s nostalgia? The fact that people actually played organic instruments and wrote altogether sensical, poetic and relatable lyrics? Sure 90s music was and still is great. I am just not quite sure why that is how the music I make is being labelled as – I guess this is calling for a bit imagination on the listener’s part. I trust my music to be very contemporary and relevant if maybe totally disregarding trends… Moreover, I like music from all eras and decades. For instance, I am currently immersed in Lucille Bogan aka Bessie Jackson (talk about a pioneering maverick!) as well as Ava Cherry and The Astronettes.

3- In Generation Y you sing about different generations. What do you think of the current generation of black women making rock? That’s great to see more of us picking guitars and doing our thing. The issue is, as it always has been, that once the mainstream picks up on one or two easily pigeonholed acts, they make it a generic trend. I want to see more women being proud of being rock chicks and doing it their own individual way, which does not necessarily have to be yelling and “acting punk”.

4- You released a cover of David Bowie’s “Let’s Dance”. How important was he in your career? I released this track in 2016, the year of his death and shortly after the death of my mother.  His music is definitely an influence on a lot of current musicians including myself, but I wouldn’t go as far as saying it was defining in my career. I love Bowie’s music and the fact that he was a pioneer in many ways, performing the way he was in the late 60s and always challenging himself artistically and aesthetically for the five following decades before his time had come. With this cover, I wanted to go the opposite way to the original musically and align the arrangements with the amazing lyrical content of this melancholic song.

5- You have been nominated one of the 10 artists running London’s underground music scene by She Shreds Magazine. How do you see the underground music scene in Europe today? I think it is thriving and that is great. The music and artistry that is coming from the underground, with very tiny budgets and resources, is simply unbelievable and awesome putting many “signed” and overpromoted acts to shame, really. God bless the underground for its creativity and diversity, if you dig deeper!

6- Last year you released three successful singles and this year you are releasing the single “Real Friends”. Can we expect an album of yours soon? These tracks were originally meant to be part of an album, but then that beast called COVID-19 made it otherwise, so I am releasing singles for the time being, until I am in the position to record another album…This said releasing albums is so very 90s, and we don’t want that, remember?! 😉

7- Do you have any Brazilian artist that you admire? I guess Seu Jorge is one I particularly relate with. This said I am not very au fait with the current Brazilian scene, so please feel free to give me recommendations.

8- What message do you leave for your fans in Brazil? Take care of yourselves, be safe and patient until the world comes back to normal and hopefully see you live in your homeland in the not-too-distant future.

*Foto em destaque: Crawford Blair.

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