A série Dear White People criou polêmica antes mesmo de estrear, com um teaser de apenas de 30 segundos ela gerou a revolta da audiência branca que clamava que a Netflix estava promovendo o “racismo reverso”, o “genocídio de pessoas brancas” e o “ódio” contra os brancos indefesos.
Provavelmente foi a primeira vez na vida que eles descobriram que também faziam parte de um grupo racial, assim como os negros, asiáticos, latinos e etc. Cheios de raiva muitas pessoas chegaram a cancelar a Netflix e a postar reclamações sobre um programa que nem havia estreado.
Esse foi o teaser que causou toda a controvérsia:
Mas eu sinto informar esse pessoal que essa série não é sobre vocês, muito pelo contrário, os personagens brancos são apenas coadjuvantes caricatos, assim como os personagens negros são representados na maioria dos programas da cultura pop.
Dear White People trata da vivência negra em suas mais variadas formas e retrata os diferentes tipos de militância dentro do movimento negro americano.
Antes de começarmos a falar sobre a série é importante ressaltar que RACISMO REVERSO NÃO EXISTE. Essa falácia geralmente é usada por pessoas brancas que não tem bons argumentos para rebater alguma crítica sobre sua conduta, ou que se sentem ofendidos quando são apontados como brancos.
É um tipo de privilégio onde ser apontado como branco é tido como ofensa por essas pessoas, que não entendem que também fazem parte de um grupo racial que oprime os outros.
Por que assistir Dear White People?
A série trata de assuntos que fazem parte da vivência da comunidade negra americana, mas que também podem ser aplicados aqui no Brasil. Temas como violência policial, colorismo, solidão da mulher negra e síndrome do impostor são abordados pela série, que toca na ferida do racismo, mas também consegue manter alguns momentos leves de humor.
Dear White People é uma série baseada no filme de mesmo nome de 2014, ela foi criada por Justin Simien, que também foi responsável pelo filme. Na fictícia universidade de Winchester conhecemos o programa de rádio de Samantha White (Logan Browning), que gera polêmica entre os alunos por fazer piada com o “White People” do campus e vive em pé de guerra com os alunos brancos que não aceitam o programa. Também conhecemos os grupos de militância negra da universidade e os seus diferentes pontos de vista.
A série é a continuação do filme, que termina com a fatídica festa do “Blackface”. Na continuação da história descobrimos o que aconteceu depois dessa festa e conhecemos os personagens e as suas motivações, além de entender como o racismo afeta cada um dos personagens e a sua forma de conviver com isso.
Os personagens são diversos e interessantes, temos um negro LGBT que se sente um pouco deslocado dos outros, um personagem que se candidata à presidência da turma por pressão de seu pai, que deseja que o filho fuja do destino que fatalmente aguarda a maioria da comunidade negra, e vive uma síndrome do impostor.
Também entendemos as motivações da personagem Coco (Antoinette Robertson), que à primeira vista parece ser uma garota vazia que não aceita ser quem é, tentando “embranquecer” a sua aparência e atitudes, mas que na verdade encontrou nessa maneira de se apresentar para o mundo uma forma de se encaixar e conviver com o racismo que sempre esteve presente em sua vida. E serve de contraponto para a personagem de Sam que, por ter a pele mais clara e traços mais brancos, só entendeu que era negra quando foi deixada de fora de uma festa e usa a militância como forma de afirmar a sua identidade.
O quinto episódio da série marca um ponto de virada na história e foi dirigido por Barry Jenkins, diretor do premiado filme Moonlight. Enquanto todos estão discutindo sobre quem está acordado ou não para a militância, um acontecimento joga na cara de todos, brancos e negros, que a violência policial sabe muito bem a cor do seu alvo e é aí que a história muda figura.
Também vemos as formas de silenciar o discurso da militância negra, mudando o foco das reivindicações para outras causas menores ou debochando das reclamações das minorias.
Essa série é necessária em vários sentidos, principalmente por representar a militância negra como algo heterogêneo e que também pode cair em contradições, mas que mesmo assim é extremamente importante na luta anti-racista.
Dear White People não é uma série feita para os brancos em primeiro lugar, e talvez esse tenha sido um dos incômodos que ela causou, já que esse público não deve estar muito acostumado em ser deixado de lado e ser alvo de piadas. Mas é importante que essa audiência assista a série e entenda os seus privilégios em relação ao resto do mundo, percebendo que nós também temos as nossas questões e importância.
Esse monólogo da Sam na rádio é praticamente uma resposta para aqueles que se incomodaram com o título da série ou que não entenderam do que se trata:
Para finalizar deixo aqui esse ótimo vídeo do canal Yo Ban Boo, que explica bem porque algumas pessoas se incomodam tanto ao serem chamadas de “brancas” e o que você deve fazer nesses casos.