Neste post falaremos sobre Grace Jones, diva da cultura pop que até hoje serve de base e influência para artistas de diversos gêneros. Também temos a carreira solo de Nona Hendryx e a inesquecível Tracy Chapman.
Até agora, contamos as origens do gênero com Sister Rosetta Tharpe, Laverne Baker e Big Mama Thornton, as três foram apagadas da história e tiveram os seus sucessos “embranquecidos” em prol de uma audiência branca. Na segunda parte vimos como nos anos 1960 Tina Turner deixou a sua marca e conhecemos Odetta “A Rainha do Folk”, além do girl group Martha and The Vandellas, ambas figuras importantes nos movimentos por direitos civis e para a música, além de Etta James e a sua voz marcante. Já na década de 1970 conhecemos Betty Davis, Joyce Kennedy do Mother’s Finest e o trio Labelle. No final dessa mesma década ainda destacamos as minas do punk e do ska Poly Styrene e Pauline Black, além de conhecermos o único single de Fancy Rosy.
Com algumas exceções, a maioria dos nomes citados acima permaneceram desconhecidos do grande público, mesmo tendo sido fundamentais para o tal do Rock and Roll e seus derivados, no entanto esse não foi o caso de Grace Jones que quebrou barreiras, não só na música, com o seu visual e atitude.
Ladies and gentlemen: miss Grace Jones
Grace Jones sozinha já daria um especial de vinte postagens, mas vamos tentar resumir a carreira desse verdadeiro ícone.
Nascida na Jamaica em 19 de maio de 1948, Grace teve uma criação muito religiosa pelos seus avós e aos treze anos se mudou para a casa dos pais em Siracusa, no estado de Nova Iorque nos EUA, onde estudou espanhol e Artes Dramáticas na universidade.
A sua rebeldia crescente a levou a sair de casa cedo e ir morar na Filadélfia, onde depois migrou para a cidade de Nova Iorque. Lá ela assinou contrato com uma agência de modelos, mas como a sua carreira não estava dando frutos nos EUA ela então se mudou para Paris em 1970.
Na Europa o seu visual andrógino e diferente a destacou e ela se firmou como uma modelo bem sucedida, desfilando para grandes nomes do ramo como Yves Saint Laurent, Giorgio Armani e Karl Lagerfeld.
O sucesso nas passarelas possibilitou outras oportunidades como atriz e cantora, na década de 1970 ela fez pequenas participações em filmes e gravou três álbuns de disco music: Portfolio (1977), Fame (1978) e Muse (1979), porém os álbuns não fizeram sucesso comercial.
Ela também se tornou queridinha de Andy Warhol e era presença constante em seus trabalhos fotográficos, além de ficar famosa pelas apresentações que fazia nos clubes noturnos voltados para o público gay em Nova Iorque e no Studio 54.
Na década seguinte Grace Jones se reinventou e mergulhou nas influências do rock, funk, new wave e reggae, além de sexualizar ao extremo em suas performances e letras.
Ela também abusou do seu visual andrógino e da sua autenticidade que a transformaram em um ícone fashion e pop, o seu corte de cabelo quadrado se tornou uma marca registrada, até hoje Jones afirma ser copiada por cantoras pop como Lady Gaga entre outras.
Os anos 1980 foram a década de Grace Jones, ao todo foram seis álbuns lançados nesse período Warm Leatherette (1980), Nightclubbing (1981), Living My Life (1982), Slave to the Rhythm (1985), Inside Story (1986) e Bulletproof Heart (1989). Além de atuações marcantes nos filmes Conan (1982), com Arnold Schwarzenegger, e James Bond – Na Mira Dos Assassinos (1985), com Roger Moore.
Em seu álbum Warm Leatherette de 1980, ela regravou músicas como “Love is A Drug” do Roxy Music e “Private Life” do The Pretenders, além de uma rara versão em reggae de “She’s Lost Control” do Joy Division, lançada como single. Também podemos destacar o álbum Nightclubbing de 1981, que trouxe regravações de músicas de Sting, Iggy Pop e David Bowie e também trouxe o hit “Pull up to the Bumper”, em que ela causa cantando sobre sexo anal.
Em Slave to the Rhythm de 1985 Grace Jones fez história e alcançou o sucesso definitivo com o hit homônimo que fala da escravidão de uma maneira que só Miss Jones conseguiria falar, esse foi o seu álbum mais vendido e a estabeleceu como ícone pop.
Falar de Grace Jones é tentar explicar alguém multifacetado que atuou em várias frentes como moda, cinema, música e artes visuais, tudo em favor da arte e da experimentação. Ela foi pioneira em vários sentidos, é um ícone LGBTQ+, ela já desafiava os papéis de gênero e sexualidade na cultura pop há quase quarenta anos.
Ela está até hoje na ativa e ao longo de mais de quarenta anos de carreira nunca parou de trabalhar e de ser uma diva de talento inegável.
Grace Jones – She’s Lost Control:
https://youtu.be/I0U9ApTT094
Grace Jones – Pull Up To The Bumper:
Grace Jones – I’m Not Perfect But I’m Perfect For You:
A carreira solo de Nona Hendryx
Na terceira parte do especial falamos do trio de glam rock Labelle, que era formado por Patti Labelle, Cindy Birdsong e Nona Hendryx, após o término do grupo as três integrantes apostaram em carreiras solo, Patti Labelle se estabeleceu no R&B enquanto Nona Hendryx migrou para o hard rock e new wave nos anos 1980.
No final da década de 70 Nona Hendryx lançou o seu primeiro álbum solo Nona Hendryx (1977), um trabalho notável que misturava soul e hard rock, mas que não fez nenhum sucesso. Como estava perdendo espaço, ela então começou a trabalhar ajudando nos vocais de estúdio para outros músicos e foi assim que ela conheceu nomes como Yoko Ono, David Johansen do New York Dolls, Prince, Afrika Bambaataa, Peter Gabriel entre outros, ela também ajudou nos vocais do Talking Heads e até saiu em turnê com eles. No começo dos anos 1980 ela se tornou vocalista de uma banda de art rock chamada Zero Cool, ao mesmo tempo em que começava a obter sucesso cantando em outros grupos e em 1982 ela lançou mais um álbum intitulado Nona que trazia o hit “Transformation”.
Em 1984 ela lançou mais um álbum chamado The Art of Defense, mas foram os seus álbuns seguintes The Heat de 1985 e Female Trouble de 1987 que alavancaram a carreira de Nona. No álbum The Heat ela compôs e gravou “Rock This House” com a participação de Keith Richards e recebeu uma indicação ao Grammy por essa canção. Hendryx também ingressou junto com outros artistas como Bono Vox, Bruce Springsteen e Lou Reed no Artists United Against Apartheid, um grupo de artistas que se uniu para protestar contra o Apartheid na África do Sul.
Em Female Trouble ela alcançou o sucesso comercial com o hit “Why Should I Cry?”, que entrou no Top 100 da Billboard. O álbum tinha o som característico dos anos 1980, com uma mistura de rock e pop e ainda contava com a participação de Prince, que escreveu a faixa “Baby Go-Go”. No final daquela década Nona Hendryx lançou mais um álbum, Skin Diver (1989), que não repetiu o sucesso dos álbuns anteriores. Nas décadas seguintes ela lançou mais alguns trabalhos e deu continuidade a sua carreira fazendo algumas colaborações com outros músicos e se reunindo com o Labelle eventualmente.
Apesar de ter produzido cinco trabalhos solo nos anos 1970/1980 que podem ser considerados bons e ter talento de sobra, Nona Hendryx não alcançou muito sucesso comercial e é quase desconhecida fora dos EUA. Seus álbuns ficaram esgotados por décadas sem que as gravadoras se interessassem em relançá-los, somente no final dos anos 2000 os seus discos começaram a ser remasterizados e lançados em CD.
Uma curiosidade sobre Nona Hendryx é que a grafia original do seu nome é com a letra “i” no lugar do “y” e ela é prima de ninguém menos que Jimi Hendrix.
Nona Hendryx – Why Should I Cry?:
Tracy Chapman e o seu sucesso meteórico
Você pode até dizer que não sabe quem é Tracy Chapman, mas eu tenho certeza que em algum momento de sua vida (provavelmente de tristeza) você já ouviu alguma de suas músicas, já que ela é presença garantida em programas de rádios como Alfa FM e Antena 1, mas ela é muito mais do que isso.
No final da década de 1980 a cantora e compositora estourou com o seu primeiro álbum auto intitulado Tracy Chapman (1988), que vendeu milhares de cópias e foi sucesso imediato, Chapman também se destacou como uma nova voz que remetia ao folk, blues e soul de décadas anteriores, ao mesmo tempo em que conseguia mesclar o pop rock em canções de acompanhamentos simples que falavam de sentimentos e experiências pessoais, o seu estilo mais leve e casual representou uma novidade naquela década carregada de exageros. Suas músicas “Fast Car”e “Baby Can I Hold You” foram os maiores sucessos de seu álbum de estreia.
Tracy Chapman nasceu em 30 de março de 1964, quando criança ela entrou em programa que ajudava crianças negras talentosas com os estudos, ela tocava guitarra e escrevia desde pequena, assim foi possível que Chapman terminasse os estudos e entrasse em uma universidade. Enquanto completava o curso na universidade, ela se apresentava nas ruas e em cafés e foi nessa época que a cantora conseguiu assinar contrato com uma gravadora.
Depois de lançar o seu primeiro álbum em 1988 e alcançar o sucesso imediato, no ano seguinte ela recebeu quatro indicações ao prêmio Grammy, vencendo em três, incluindo Artista Revelação, Melhor Gravação de Folk Contemporâneo e Melhor Performance Vocal Pop Feminina. Nesse mesmo ano ela lançou um segundo álbum que não fez o mesmo sucesso comercial, mas mesmo assim recebeu mais uma indicação ao Grammy.
Na década seguinte ela lançou mais dois trabalhos em Matters of the Heart (1992) ela continuou restrita a um nicho de fãs fiéis, sem fazer o mesmo sucesso do primeiro trabalho, mas com New Beginning (1995) ela voltou às paradas de sucesso e foi premiada novamente no Grammy com a música “Give Me One Reason” que recebeu quatro indicações e venceu na categoria Melhor Canção de Rock.
As canções de Chapman também falam de ativismo social, a cantora tem uma forte participação em ações sociais, o que a transformou em uma das cantoras mais relevantes no ativismo das últimas décadas. Chapman também se estabeleceu como uma referência, na época, para cantores que surgiram nos anos 1990 e faziam um som com melodias simples e letras confessionais, como o R.E.M. de Michael Stipe, além de ser forte influência para o movimento de cantoras e compositoras que surgiu nos 1990.
Tracy Chapman vendeu milhões de discos, recebeu vários prêmios e abriu espaço para um gênero de pop rock mais intimista. O seu disco de estreia figura na lista dos 100 melhores álbuns dos anos 1980 da revista Rolling Stone.
Tracy Chapman – Fast Car:
Tracy Chapman – Baby Can I Hold You:
Ouça a playlist especial Mulheres Negras no Rock:
Leia os outros posts do especial:
Mulheres Negras no Rock: Parte 1 – De Sister Rosetta Tharpe ao esquecimento
Mulheres Negras no Rock: Parte 2 – Tina Turner, Odetta e os anos 1960
Mulheres Negras no Rock: Parte 3 – Betty Davis e os anos 70
Mulheres Negras no Rock: Parte 4 – Poly Styrene e o punk rock
Mulheres Negras no Rock: Parte 6 – De Lisa Fischer ao rock alternativo dos anos 90
Mulheres Negras no Rock: Parte 7 – Tamar-kali e a renovação nos anos 2000
Mulheres Negras no Rock: Parte 8 – Brittany Howard e os novos nomes
Mulheres Negras no Rock: Parte 9 – Lady Bo e as guitarristas
Mulheres Negras no Rock: Parte 10 – Mahmundi e as brasileiras
Fotos de Grace Jones, Nona Hendryx e Tracy Chapman:
Fontes:
https://shadowandact.com/cannes-grace-jones-thrill-ride-of-verite-cinema-to-launch-shes-in-talks-to-adapt-autobiography
http://www.allmusic.com/artist/nona-hendryx-mn0000454068/biography
http://soultrain.com/2015/09/17/the-80s-nona-hendryxs-female-trouble/
https://genius.com/artists/Tracy-chapman
https://www.last.fm/music/Tracy+Chapman/+wiki
http://rollingout.com/2015/06/12/tina-turner-grace-jones-black-women-rock/