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Victoria Spivey: rainha do blues e mentora de Bob Dylan

Victoria Spivey: rainha do blues e mentora de Bob Dylan

Bob Dylan e Victoria Spivey

Victoria Spivey conhecida como a rainha do blues ou simplesmente “Rainha Victoria”, foi uma cantora de blues considerada uma das blueswoman mais influentes de todos os tempos. Ela também foi muito importante na vida e na carreira de Bob Dylan, que sem ela talvez não tivesse se tornado o amado seresteiro que nós conhecemos.

Nascida Victoria Regina Spivey em 15 de outubro de 1906 em Houston, Texas nos EUA, ela iniciou a sua carreira na música na década de 1920 aos 19 anos de idade. Conhecida como “Queen Victoria” ela teve uma carreira marcante na década de 1920 com o seu primeiro sucesso “Black Snake Blues”, mas foi na década de 1960 que ela se reinventou e levou o blues para gerações mais jovens, influenciando jovens músicos no revival do blues e da música folk.

A Rainha Victoria Spivey

Imagem de Victoria Spivey
Victoria Spivey. Foto: reprodução.

Victoria começou a sua carreira na música cantando na banda da família com o seu pai. Ele faleceu quando ela tinha 17 anos e ela seguiu a sua carreira na música ainda muito jovem, com o pianista Lincoln Theater in Dallas e posteriormente cantando em boates e casas de show da sua cidade. Ela chegou a se apresentar em casas de apostas, bares gays e bórdeis nas cidades de Galveston e Houston com o músico Blind Lemon Jefferson. Algumas das influências de Victoria Spivey foram Ida Cox, Robert Calvin, Sara Martin e Bessie Smith.

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Em 1926 ela gravou o seu primeiro sucesso “Black Snake Blues” pela gravadora Okeh Records e se tornou uma cantora de blues tão conhecida quanto grandes nomes da época como Ma Rainey e Bessie Smith. Em 1929 ela fez a sua estreia no cinema como atriz no filme Hallelujah!, primeiro filme falado do diretor King Vidor. Ela também criou sucessos como “TB Blues,” “Dope Head Blues” e “Organ Grinder Blues”.

Na década de 1930 ela continuou fazendo sucesso atuando em filmes e gravando canções como “Detroid Moan”. Ela ficou conhecida como a rainha Victoria e chegou a gravar com nomes como Louis Armstrong, Henry Allen, Lee Collins, Lonnie Johnson, Memphis Minnie, Bessie Smith e Tampa Red.

Após se separar de seu primeiro marido Reuben Floyd um trompetista, ela se casou novamente com um dançarino chamado William Adams, ela acabou se casando mais duas vezes ao longo de sua vida. Sua carreira foi bem sucedida nas décadas de 1930 e 1940, porém ela resolveu se aposentar nos anos 1950 e foi viver no Brooklyn, se dedicando a administrar a igreja a qual fazia parte, tocando ocasionalmente no coral da igreja.

Além do talento para a música Victoria Spivey também era uma talentosa mulher de negócios e junto com o músico de jazz Len Kunstadt criou o selo Spivey Records. Tendo assim liberdade para gravar os seus próprios álbuns e lançando jovens artistas e se tornando uma das primeiras mulheres a ter a sua própria gravadora.

No começo da década de 1960 ela já era conhecida como uma das blueswoman mais influentes no meio musical. E retomou a sua carreira com a sua nova gravadora chegando a sair em turnê pela europa com o American Folk Blues Festival em 1963.

Foi nesse cenário que ela conheceu um jovem e ainda desconhecido músico chamado Bob Dylan. Ela foi responsável pela primeira gravação em estúdio do cantor. Three Kings and The Queen (1962) foi um dos primeiros álbuns lançados pela gravadora de Spivey e tinha Bob Dylan nos backing vocals ao lado de grandes nomes como Lonnie Johnson, Roosevelt Sykes e Big Joe Williams.

A retomada da sua carreira na década de 1960 se deu em um cenário de liberação sexual e luta pelos direitos das mulheres, dando um novo fôlego para a carreira da cantora e apresentando o blues para gerações mais jovens. Na década de 1970 ela continuou fazendo sucesso com audiências jovens interessadas na onda folk da época. Victoria Spivey faleceu em 3 de outubro de 1976.

A amizade com Bob Dylan

O álbum Three Kings and The Queen foi a primeira gravação de Bob Dylan que na época tinha pouco mais de 20 anos. Para ele foi um sonho realizado gravar com Big Joe Williams.

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Victoria Spivey aparece na contracapa do álbum New Morning (1970) e também é citada no pseudo-documentário de Martin Scorsese “Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story by Martin Scorsese“, que cobre a turnê de 1975 do cantor.

Quatro músicos no estúdio
Bob Dylan, Victoria Spivey e Big Joe Williams. New York City, março de 1962.

Bob Dylan nunca escondeu que foi profundamente influenciado por cantoras como Sister Rosetta Tharpe e Odetta. As canções folks de Odetta foram fundamentais para o cantor seguir o caminho do folk em sua juventude. Dylan conheceu Spivey muito jovem e foi ela quem possibilitou o seu primeiro trabalho em estúdio e o encorajou em sua primeira gravação com grandes nomes da música.

Ela apostou no cantor e convenceu Len Kunstadt a gravar com o jovem músico nos backing vocals e gaita, o colocando sob sua tutela em seu começo de carreira. Dylan por sua vez ficou profundamente marcado por esse período e eternamente grato a Victoria colocando a foto dos dois na contracapa de seu álbum New Morning, como lembrança dessa época.

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New Morning
Capa e contracapa do álbum New Morning. Foto: reprodução.

Eu acho que uma das melhores gravações que eu já fiz parte foi o disco que eu gravei com Big Joe Williams e Victoria Spivey. Agora esse é um álbum que eu ouço de tempos em tempos (…). Eu me surpreendo de ter estado lá e ter feito aquilo.” – Bob Dylan em entrevista para a Rolling Stone, 2001.

Bob Dylan e Victoria Spivey
Bob Dylan e Victoria Spivey. Newport Folk Festival 1963. Foto: Rowland Scherman.

Eles acabaram se tornando amigos muito próximos e Spivey mostrou o caminho das pedras para um jovem talentoso que se tornaria uma estrela mundial em pouco tempo.

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Ela foi uma figura fundamental para o cantor e os dois compartilhavam carinho e admiração um pelo outro. Após o falecimento de Victoria, Dylan chegou a declarar o quanto sentia falta de sua mentora: “Eu a amava… Eu aprendi tanto com ela, eu nunca pude transmitir isso em palavras…”. O amor dos dois era tão grande que deixou um dos maiores poetas de sua geração sem palavras para descrever essa relação.

Ouça uma playlist especial com Victoria Spivey e Bob Dylan:

Referências:
https://en.wikipedia.org/wiki/Victoria_Spivey
https://aaregistry.org/story/she-could-do-it-all-victoria-spivey/
https://tshaonline.org/handbook/online/articles/fsp25
https://books.google.com.br/books?id=WSaMu4F06AQC&pg=PA606&lpg=PA606&dq=victoria+spivey+bob+dylan+relationship&source=bl&ots=UJ89cdzfXr&sig=ACfU3U1U1KqeaPs8QUY5n1ReD4FNuJjiVg&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwikvo3ukKrpAhXOH7kGHczXBDQQ6AEwEnoECAkQAQ#v=onepage&q=victoria%20spivey%20bob%20dylan%20relationship&f=false
https://www.rollingstone.com/music/music-news/bob-dylan-at-60-unearths-new-revelations-86631/
https://www.needsomefun.net/bob-dylan-victoria-spivey-recording-session/
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