Lendo agora
O Ódio que Você Semeia: 5 questões importantes mostradas no filme

O Ódio que Você Semeia: 5 questões importantes mostradas no filme

O ódio que você semeia

Baseado no aclamado livro de Angie Tomas, O Ódio que Você Semeia (The Hate You Give, no original) é focado na vida de Starr (Amandla Stenberg), uma adolescente que vive entre dois mundos. Enquanto vive com a sua família em um bairro negro e estuda em uma escola predominantemente branca, ela se vê forçada e mudar o seu jeito e a sua personalidade para se encaixar em um universo que julga as pessoas negras como pobres e violentas.

Na escola todos os seus amigos são brancos e o seu namorado também é. Ela se vê obrigada a parecer dócil e maneirar o linguajar, para não usar gírias e ser considerada do “gueto”, enquanto as suas amigas podem usar as mesmas gírias e se acharem legais e até o seu namoro é visto com maus olhos.

Já no bairro onde mora ela também se sente deslocada por não atender os estereótipos que as pessoas acham ser comuns às pessoas negras. Mas as coisas mudam quando ela vê o seu amigo de infância Khalil (Algee Smith) ser brutalmente assassinado por um policial em uma batida.

Listamos cinco temas importantes abordados no filme, que você precisa prestar atenção:

1 – Violência policial

O Ódio que Você Semeia

Já na primeira cena do filme Starr e seus irmãos, ainda crianças, são ensinados como devem se portar caso sejam parados pela polícia. Para algumas pessoas isso parece ser problema só de quem é pobre e vive em favelas ou, no caso do filme, em bairros negros. Mas o fato é que a cor da pele determina como a polícia tratará as pessoas, não importa se estejam em um bairro pobre ou dirigindo um carro caro, bem vestido e morando em um bairro de alta-classe. Em um diálogo extremamente incômodo e forte entre Star e seu tio Carlos (Common) fica evidente a forma como a polícia age, mesmo que esse policial também seja negro, o racismo tem um alvo que todo mundo sabe a cor. A morte mostrada no filme é muito parecida com mortes recentes que aconteceram nos EUA e aqui no Brasil também e em comum a cor da pele das vítimas.

2 – Racismo e racismo hipster

O Ódio que Você Semeia

As amigas de Starr exemplificam o que hoje em dia é chamado de “racismo hipster”, para designar aquele tipo de pessoa que diz que tem amigos negros e não é racista, mas que no seu dia a dia tem a fala carregada de piadas e gírias racistas e parecem não ter noção de como isso afeta as pessoas negras e do quanto isso é racista. Está tudo lá muito bem desenhado no filme. Também é interessante notar como os estudantes brancos se utilizam de uma suposta preocupação com a violência vivida por pessoas negras, mas que na verdade é usado em proveito próprio e sem nenhuma reflexão. Além desse racismo “velado”, a forma como a mídia trata a vítima da violência, como sendo um bandido perigoso que merecia morrer, também é exemplificada e o julgamento de uma pessoa que foi morta por segurar uma escova se torna maior do que o do homem que o matou.

3 – Black Lives Matter

O Ódio que Você Semeia

A hashtag #blacklivesmatter surgiu em 2013, após o absolvição do policial George Zimmerman na morte a tiros do adolescente Trayvon Martin. No filme ele é representado pela advogada April Ofrah (Issa Rae), que incentiva Starr a não ficar calada após testemunhar a morte de seu amigo e lutar pela condenação do policial. O movimento também é questionado quando um dos personagens afirma que a vida do policial também importa, fazendo referência ao Blue Lives Matter, um movimento criado pelos policiais em oposição ao BLM e também é visto como uma forma de amenizar a violência policial sofrida pelas pessoas negras, falando do “todas as vidas importam”.

Leia também
A Vida Imortal de Henrietta Lacks.

4 – Tupac

O Ódio que Você Semeia

O nome do filme em inglês é uma alusão a música de Tupac Shakur “T-H-U-G-L-I-F-E”: The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody. Em uma tradução livre: “o ódio que você passa para as crianças fode com todo mundo”. O trabalho da rapper e ativista assassinado em 1996 teve forte influência na vida da autora do livro e o músico é citado em várias passagens do filme. Assim como os Panteras Negras e o programa de dez pontos do movimento, dando ênfase ao sétimo ponto: “Nós queremos o fim imediato da brutalidade policial e assassinato do povo preto.”

5 – Ativismo Negro

O Ódio que Você Semeia

Após ver o seu amigo ser assassinado, Starr começa a perceber que não deve ficar calada perante a violência que a rodeia e afeta diretamente as pessoas negras e com ajuda de sua família ela começa a se manifestar contra o racismo institucional que tirou a vida de seus amigos. O ativismo se mostra não só nas manifestações nas ruas, mas também no dia a dia e nas coisas que ela deixa de tolerar na sua escola e nas pessoas próximas. É interessante notar que o seu namorado, mesmo sendo branco e sendo adepto do discurso “somos todos iguais”, se esforça para entender Starr e as suas necessidades, diferente de suas amigas, e se mostra um aliado.

“O Ódio que Você Semeia” toca em temas importantes e caros não só para a comunidade negra, mas também para uma audiência branca que se diz aliada, ou que diz adorar a cultura negra, mas se omite nos momentos importantes e tratam o racismo como um problema somente dos negros. O filme é extremamente forte e todo mundo que já passou por alguma situação de racismo se identifica com Starr. E a sua história se passa nos EUA, mas poderia facilmente ter sido contada aqui no Brasil.

Copyright © 2024 Sopa Alternativa. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução, total ou parcial do conteúdo sem autorização prévia da autora.

Topo