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Mulheres de Cinzas: a trilogia das Areias do Imperador

Mulheres de Cinzas: a trilogia das Areias do Imperador

Mulheres de Cinzas é o primeiro livro da trilogia As Areias do Imperador do escritor moçambicano Mia Couto, ele narra os últimos dias do chamado estado de Gaza, o segundo maior império da África governado por um africano, Ngungunyane (Gungunnhane) foi o último imperador a governar toda a metade sul do território de Moçambique. Ele foi derrotado pelos portugueses em 1985 e deportado para os Açores, onde morreu em 1906.

“A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem  mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer.
Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.”

Capa Mulheres de Cinzas
Capa Mulheres de Cinzas

No livro temos dois narradores de uma mesma história em meio à guerra: a jovem moçambicana Imani e o sargento português Germano Melo. Imani narra as histórias de sua família e de seu povo e o seu contato com os portugueses, como ela é a única que sabe falar e escrever em português acaba servindo de ponte entre esses dois mundos como interprete do sargento. Já o sargento Germano narra as suas experiências em uma terra desconhecida em cartas que envia ao seu superior, ao mesmo tempo em que começa a se apaixonar por Imani.

Conhecemos as consquências da guerra pelo ponto de vista de um homem português que se importa com os africanos, diferente de seus compatriotas colonizadores que enxergam os habitantes como seres inferiores e desprovidos de alma e cultura. Já Imani é o lado que nos apresenta a visão daqueles que vivem a situação de invasão. Em meio a tudo isso a guerra se apresenta com as suas consequências: medo, violência e desesperança. A região que foi colonizada pelos portugueses sofria com a guerra ao líder Ngungunyane que era tão cruel quanto os portugueses.

“Infelizmente, disse ele, assim é a lei do mundo: quem sofreu quer fazer sofrer os outros. Iríamos padecer mais como os escravos do VaNguni do que com os próprios VaNguni. Iríamos sofrer tanto com os negros que nos esqueceríamos do que padecêramos com os brancos.” – Trecho do livro Mulheres de Cinzas.

A relação do sargento com Imani se constrói aos poucos, assim como o sentimento que os dois nutrem um pelo outro; o sargento mesmo estando em uma posição de poder nunca avança à força com a moça e é Imani quem parece ter o controle da relação, os dois são estranhos tanto em sua cultura como em aparência e o sargento parece sentir que não é bem-vindo ali.

Mesmo assim, o romance entre os dois não deixa que as diferenças raciais desapareçam, ele expõe esse abismo entre os dois mundos dos protagonistas, em um determinado trecho Germano expõe o seu incômodo ao ver Imani escrevendo e lendo em português, para ele incomoda que ela saiba a língua deles e tenha conhecimento das coisas. É como se a moça ganhasse alma e força com o conhecimento que os outros de seu povo não tem e isso incomoda muito o sargento português.

Mulheres de Cinzas nos apresenta a visão da guerra pelos olhos de uma mulher profundamente envolvida no conflito, seu irmão se une às tropas de Ngungunyane e o outro serve os portugueses, e ela mesma fica dividida entre o conflito e o amor que sente por Germano. Nesse romance histórico conhecemos os eventos de um conflito que é pouco falado e ainda refletimos sobre a posição da mulher na guerra.

* Publicado originalmente no site Las Pretas.

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Mulheres de cinzas: 1

Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras; Edição: 1 (16 de novembro de 2015)
344 páginas

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