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Filho Nativo reflete sobre o que é ser negro na América atual

Filho Nativo reflete sobre o que é ser negro na América atual

Filho Nativo

Filho Nativo, é baseado no clássico livro de Richard Wright de 1939 e foi adaptado novamente em um  filme para TV pela HBO em 2019. A adaptação contemporânea é estrelada pelo jovem e talentoso ator Ashton Sanders (Moonlight), e faz uma ponte com as questões do indivíduo negro na sociedade americana, ao mesmo tempo em que faz um paralelo com a obra original de 80 anos atrás e mostra como as coisas não mudaram tanto.

Em Filho Nativo acompanhamos a história do jovem Bigger, que consegue um emprego como motorista em uma família de alta classe. Ao mesmo tempo em que tenta entender qual é o seu lugar na sociedade. A sua família é formada por sua mãe, irmãos, o seu círculo de amizades e namorada refletindo a juventude negra atual.

Mas mesmo atualizando a narrativa para a nossa contemporâneidade, as mesmas questões continuam aparecendo na vida da pessoa negra americana, assim como dos brancos que se dizem aliados e a forma como a brutalidade atinge o protagonista e o transforma num agente cruel para se proteger.

O estereótipo do homem negro americano

Filho Nativo
Ashton Sanders em cena do filme Filho Nativo. Foto: reprodução.

No filme, o personagem de Ashton Sanders curte punk rock e anda por aí com os cabelos tingidos de verde. Ele está sempre atento e questionando o seu papel na sociedade e o destino que aguarda jovens negros de baixa renda, a criminalidade ou a servidão. O seu papel na sua família como o homem da casa que precisa arranjar dinheiro para ajudar nas despesas o faz caminhar para um flerte com a criminalidade, mas que ele rejeita tentando não se enquadrar no que é esperado de um jovem negro pobre.

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Na obra original Richard Wright, que era extremamente consciente do papel do negro na sociedade americana, retrata no personagem Bigger as angústias, medos, sofrimentos, questionamentos e inseguranças do homem negro americano. É importante ressaltar que o livro foi escrito a partir da visão de um homem negro, portanto a forma como as mulheres negras e brancas são retratadas na obra dizem muito sobre a diferença de tratamento dada a elas por homens negros, que perduram até hoje, apesar do filme atual mudar alguns pontos importantes da obra.

Bigger é extremamente crítico de sua condição na sociedade e ainda assim tem que agir de maneira servil para a família que o contrata, além de interagir com cautela com a filha branca de seu patrão, chamada Mary (Margaret Qualley), que em muitos momentos se apresenta como aliada e amiga, mas ainda detém o poder sobre ele.

A relação com a América branca

Filho Nativo
Cena do filme Filho Nativo. Foto: reprodução

O autor de Filho Nativo chegou a fazer parte do partido comunista por um tempo, acreditando que isso ajudaria na causa negra, no entanto ele começou a se distanciar dessa vertente política quando percebeu que seu camaradas brancos não entendiam de fato a angústia de ser negro em uma América racista e segregada, por melhores intenções que tivessem. Isso é retratado em sua obra na família que contrata o jovem Bigger como empregado. São todos muito atenciosos e gentis, mas as relações de poder ainda existem.

O desconforto do protagonista é evidente quando Mary, que ele precisa levar para a faculdade, se mostra interessada na vida dele e se apresenta como uma ativista, assim como o seu namorado, os dois tentam se tornar amigos de Bigger e se inserir em sua comunidade e amigos.

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Na versão atual esses temas se tornam ainda mais presentes com a recente onda de protagonismo negro alavancada pela internet e as relações com os brancos que se dizem aliados. O filme é certeiro em pontuar essa relções aos olhos do protagonista, e como isso não impede que Bigger tenha medo de se aproximar dela de maneira mais íntima.

Filho Nativo: um clássico da literatura americana

Para além do excelente remake que fizeram do filme de 1951 baseado na obra escrita em 1939 e que continua mais atual do nunca. Também é importante destacar o autor da obra original, totalmente consciente de seu papel na sociedade como um homem negro, ele conseguiu transferir todo esse sentimento de medo e angústia em seu primeiro livro. Ao longo das décadas ele se tornou um proeminente e questionador autor. O que o levou ao exílio na Europa e a constante perseguição do governo americano.

Em sua obra mais importante conseguiu transpor a literatura sendo transformada em peça de teatro e tendo os seus direitos vendidos para o cinema, porém os executivos dos de estúdios de Hollywood da época queriam alterar o protagonista para um homem branco, o que não agradou Wright, que exigiu que as principais características da obra fossem mantidas.

No vídeo abaixo você encontra uma análise completa da obra do autor e a sua vida, mas é melhor assistir após ter visto o filme, caso não queira receber alguns “spoilers”. Filho Nativo está disponível no catálogo da HBO e vale muito a pena ser visto.

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