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[Entrevista] Samantha Hollins, a GhettoSongBird, conta como é ser uma mulher negra no rock

[Entrevista] Samantha Hollins, a GhettoSongBird, conta como é ser uma mulher negra no rock

GhettoSongBird

Samantha Hollins também conhecida como GhettoSongBird, é uma cantora, compositora e guitarrista americana, nascida na Filadélfia. Ela começou o seu projeto como GhettoSongBird em 2001, mas já cantava e tocava piano enquanto descobria as relíquias da coleção discos de sua mãe.

A música de GhettoSongBird tem influências de diversos nomes clássicos do rock como Tina Turner e Prince, mas Samantha ainda adiciona uma camada de Roxsploitation e psicodelia em seu trabalho. As suas composições falam de amor, luta, revolta, sobre o meio ambiente e o que acontece no mundo.

A cantora já tocou em templos do rock como o CBGB e Apollo Theater, ela é pupila de Rosa Lee Brooks, compositora que já trabalhou com Jimi Hendrix na década de 1960. Além de se dedicar a música com sua banda, ela também criou o “Wingdom Fest”, um festival beneficiente onde ela dá espaço para novos artistas independentes promove causas importantes em sua comunidade.

Conseguimos um espaço na agenda da GhettoSongBird, que além de tudo é uma mãe dedicada, e conversamos um pouco sobre como é ser uma mulher negra fazendo rock, suas influências e o recado que ela deixa para os seus fãs brasileiros.

1 – SA: Quais são as suas influências na música?

Mexendo na coleção de álbuns da minha mãe quando eu era criança eu adorava ouvir P-Funk, The Bar-Kay’s, Sly & The Family Stone, Earth Wind & Fire, Mandrill, Prince, Santana, Sade e muitas bandas incríveis. Minha mãe me apresentou ao Jimi Hendrix através de um pôster que ela me deu quando eu era pré-adolescente.

Eu tropecei nas fitas do Black Sabbath, Billie Holiday, The Doors e Sarah Vaughan no centro de Woolworth. Ouvindo rádio eu conheci Tina Turner, Fishbone, Living Colour, Lenny Kravitz, Tracie Chapman, Maxwell e Dione Farris. Na idade adulta, descobri Sister Rosetta Tharpe, Betty Davis, Marsha Hunt, Rosa Lee Brooks e W.I.T.C.H.

Samantha Hollins

2 – SA: Como é ser uma mulher negra fazendo Rock?

O tom da minha pele e a feminilidade sempre foram vistos antes da minha música, enquanto crescia tocando rock no início dos anos 2000. Ser a única mulher negra, e às vezes a única mulher, em ambientes de Rock com uma guitarra elétrica tocando música pesada atraiu muita sabotagem, competitividade e desrespeito. Você tinha que ser forte, severa e profissional ao mesmo tempo, mesmo quando queria gritar ou chorar.

Não conseguir os shows e o respeito que eu sabia que merecia me frustraram ao extremo. Eu tive que canalizar essas emoções organizando espaços para mim e outras irmãs no Rock. Quando as portas se abriram para mim, me senti compelida a pagar de alguma forma, transmitindo oportunidades de shows e orientando os outros. Alguém dedicou um tempo para fazer isso por mim, por isso é muito importante fazer o mesmo com os outros.

Sou muito grata aos meus mentores (Cazzy, Docta Shock e Rosa Lee Brooks), que ajudaram a cultivar minha jornada e me lembram do meu trabalho duro e de como minha visibilidade era muito necessária em um momento tabu para mulheres negras guitarristas no rock.

3 – SA: Como você acha que o público recebe o seu trabalho?

Após 19 anos de rock ininterruptos, a energia que recebo do público cresce como uma troca de poder. Eu realmente sinto que as pessoas estão torcendo por essa garota da Filadélfia e eu sou muito grata. Meu coração se partiu quando um dos meus maiores apoiadores, Mike Brodie, faleceu recentemente. A ponte que construo com meu público é como uma família de alma através do poder da música.

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No extremo oposto do espectro, acredito que há um universo de pessoas que ainda está descobrindo o meu trabalho, se perguntando por que estão me descobrindo só agora. É por isso que é tão importante que nós protejamos e preservemos nosso legado. Ao longo dos anos, descobri tantas bandas influentes de pessoas negras (Sound Barrier, Black Merda, Pure Hell, Freda Renté, Betty Davis, etc.) e que ainda não receberam o crédito que merecem. Levou muito tempo para Rosetta Tharpe receber o seu tão merecido crédito. O Little Richard está gritando por si mesmo há muito tempo. Contar a nossa própria narrativa é incrivelmente necessário!

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4 – SA: Como você acha que o seu trabalho influencia outras garotas negras a gostar de Rock and Roll?

A mera essência da representação é crucial. Embora tenham me dito que eu não deveria estar lá. Tenho visibilidade como meu alter ego GhettoSongBird desde 2001, como atração principal em casas de show de renome mundial, em  agências internacionais/programas de televisão locais, nas principais rádios do mainstream, revistas, jornais, podcasts, em painéis de música, produzindo meu próprio festival, orientando e muito mais. Eu não vi isso quando eu era uma garotinha, então o feedback que recebo é extremamente animador.

Vejo a influência em minha cidade natal, Filadélfia (EUA), faculdades e parte da nova geração de roqueiras; mesmo que elas nunca digam isso em voz alta. Partilho o que chamo de “HER-HISTÓRIA” através de fotos e histórias on-line, porque muito do nosso lugar na história do Rock é muitas vezes invisível e não contado. Contanto que continuemos a crescer em número, conheço todos os “ismos pelos quais passei e aqueles que vieram antes de mim não foram em vão.

5 – SA: Qual mensagem você deixa para as pessoas pretas que gostam de Rock and Roll aqui no Brasil?

Eu cresci há apenas 5 quarteirões de onde a Sister Rosetta Tharpe viveu seus últimos anos no norte da Filadélfia. Ficando de pé em frente aos degraus da casa dela e tocando a sua lápide em um cemitério próximo, realmente me fez contemplar o verdadeiro espírito do rock. É a nossa cultura desde a Mãe África até a experiência afro-americana; agora florescendo em toda a diáspora no mundo todo. É tão forte que a paisagem sonora exala seu próprio idioma, que nós traduzimos automaticamente vibracionalmente. Esta entrevista é uma prova disso. Há tanta cultura que podemos trocar simplesmente conectando-nos. Sou uma grande fã de muitos roqueiros brasileiros, incluindo Punho De Mahin, Black Pantera, Vangloria Arcannus e muitos outros.

Espero me juntar ao incrível caos do rock no Brasil em um futuro próximo!

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